18 outubro 2011

Documentos mostram recuo do ministério do esporte após pressão de denunciante‏

Depois de encaminhar à PM provas de irregularidades em convênios firmados por militante, ministério recuou para evitar que esquema fosse delatado Gabriel Castro 

 

 

 

 

 

João Dias, soldado da Polícia Militar (Cristiano Mariz )

Quando conversou com VEJA para rebater as acusações de que coordenava um esquema de corrupção no Ministério do Esporte, Orlando Silva negou ter cedido a qualquer pressão de João Dias, policial militar filiado ao PC do B que participou das fraudes e agora denuncia o esquema. Mas a verdade não é exatamente essa.
Documentos obtidos por VEJA comprovam que, em 2008, o ministério recuou após Dias ter ameaçado delatar os desvios na pasta. Como é Policial Militar, o integrante do PC do B estava ameaçado por uma sindicância interna da corporação, que apurava irregularidades em convênios que entidades ligadas a ele mantinham com o ministério.

A corporação pediu que a pasta de Orlando Silva desse detalhes sobre as irregularidades. Mas, depois de encaminhar à Polícia Militar documentos mostrando fraudes em convênios operados pelo soldado, a pasta pediu à PM desconsiderasse o material enviado anteriormente. O que aconteceu nos três dias de intervalo entre uma data e outra? Dias foi ao ministério pressionar para que a situação fosse revertida. Se o envolvido não tivesse nada que pudesse comprometer a cúpula do Esporte, o mais provável é que as ameaças fossem ignoradas. Mas o policial militar conseguiu o que queria.

No primeiro documento, elaborado com base em uma sindicância feita em janeiro de 2008, o ministério confirma a existência de irregularidades na Federação Brasiliense de Kung Fu e na Associação João Dias de Kung Fu, ambas controladas pelo integrante do PC do B. A análise que as entidades não executaram os serviços que deveriam. Por isso, o policial deveria devolver 2 milhões de reais aos cofres públicos. As principais irregularidades apontadas foram o uso de notas fiscais inválidas para prestar conta dos serviços, o desenvolvimento de projetos por menos tempo do que o acertado, a falta de apresentação de recibo do pagamento de salários e o não-fornecimento de alimentação aos beneficiados pelos programas esportivos desenvolvidos. O material foi enviado à Polícia Militar em 2 de abril.              


Reprodução
A primeira versão: ministério lista irregularidades cometidas por entidades ligadas a João Dias. As fraudes, apontadas em janeiro, foram reportadas à Polícia Militar no dia 2 de abril

Curiosamente, cinco dias depois, o ministério volta atrás. Pede que o ofício anterior seja desconsiderado. O motivo alegado: “As entidades solicitaram a este ministério, nesta data, pedido de prorrogação de prazo”.  O resultado é que João Dias continua na Polícia Militar até hoje. O episódio comprova o que diz o militante do PC do B: com receio de que o esquema de desvios de recursos em Organizações Não-Governamentais (ONGs) fosse delatado, o ministério se dobrou às exigências feitas pelo soldado.

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Segundo ofício: encaminhado cinco dias depois do primeiro documento, o texto pede que a Polícia Militar desconsidere as acusações. A pressão havia funcionado
O recuo do ministério comprova como a pressão de Dias funcionou. E só funcionou porque a pasta temia o potencial explosivo das revelações que o militante do PC do B poderia fazer. 
Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, o ministro Orlando Silva foi abordado sobre o assunto. Ele disse que não houve "mudança, flexibilização ou recuo do ministério" nesse episódio. "Não podemos responder por processos administrativos", afirmou.

Fonte:Revista Veja
Fonte: Policiais e Bombeiros do Brasil

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