05 novembro 2011

Crime organizado migra para o Nordeste

Jaciara Santos

Merece atenção especial das autoridades de segurança pública da Bahia estudo recentemente divulgado sobre a migração do crime organizado do Sudeste para o Nordeste do país. Fenômeno, aliás, iniciado há nove anos, conforme levantamento da Polícia Federal e de algumas polícias de estados nordestinos. Ora, trata-se de um movimento previsível: se o cerco aperta em determinados locais, a criminalidade vai buscar espaços onde possa atuar com um mínimo de “segurança”, por assim dizer.
Em matéria publicada no site UOL Notícias,  o pesquisador do Instituto Sangari e autor dos trabalhos “Mapa da Violência”, Julio Jacobo, diz ter detectado a primeira manifestação desse fenômeno em 2002.  O estudo é publicado desde 1998.  E o fenômeno produziu logo uma mudança no panorama da violência, destaca ele: “Enquanto em algumas cidades extremamente violentas diminuiu o número de homicídio, em outras áreas, que não eram consideradas violentas, o número cresceu”. É o que o especialista chama de “desconcentração da violência”.
E a Bahia deve ficar alerta. Hoje,  Alagoas lidera o ranking de homicídios no país, com mais de 60 homicídios para cada 100 mil habitantes, de acordo com o Estudo Global de Homicídios 2011, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc). Não por acaso, a polícia alagoana é a que mais greve registrou nos últimos anos, o que confirma a relação entre violência e ausência do aparato de segurança. Mas o fato de Maceió e Salvador estarem separadas por uma distância de quase 650 quilômetros não deve ser motivo de tranquilidade. Pelo contrário. Qualquer endurecimento na política de segurança por lá pode, sim, produzir reflexos nos estados de Pernambuco, Sergipe e Bahia, com os quais divide fronteiras.
Portanto, em vez de ficar fazendo factóides e brincando de polícia e bandido, o governo baiano deveria começar a fazer o dever de casa. Vigiar as fronteiras, investir na moralização da polícia, resgatar o sentimento do homem de polícia são algumas das ações. Mal comparando, é o que também pode vir a acontecer (se já não está acontecendo) em Salvador com a implantação das Bases Comunitárias de Segurança, as UPPs com sotaque baiano. Ou alguém imagina que a simples chegada de reforço policial a determinada localidade tem o condão de fazer desaparecer os bandidos ali estabelecidos? Como a implantação do programa caminha a passos mais lentos do que prega o marketing oficial, o que se tem visto é a troca de endereço de traficantes, assaltantes e criminosos dos mais variados naipes. É esperar pra ver.

Sobre o Autor

Jaciara Santos (jaciara@aqueimaroupa.com.br) é sergipana de Aracaju, mas atua como jornalista profissional em Salvador-BA, já há quase três décadas. Foi repórter, chefe de reportagem, pauteira, editora de Cidade, Política e Economia, colunista e subeditora de Segurança. Premiada duas vezes no extinto concurso de reportagens da Associação Bahiana de Imprensa, em 2003 conquistou também o prêmio Banco do Brasil na categoria reportagem por uma série de matérias sobre a ação dos grupos de extermínio na Bahia.

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