RESUMO
Por - Adilson Domingos
Estado de Maracaju foi o nome dado à criação revolucionária de um estado federativo brasileiro que existiu sem autorização da União de 10 de julho de 1932 a 2 de outubro do mesmo ano, durante as agitações da Revolução Constitucionalista de 1932.
Estado de Maracaju foi o nome dado à criação revolucionária de um estado federativo brasileiro que existiu sem autorização da União de 10 de julho de 1932 a 2 de outubro do mesmo ano, durante as agitações da Revolução Constitucionalista de 1932.
O estado reclamava o território que hoje ocupa o estado de
Mato Grosso do Sul. Seu nome deriva-se da serra que corta o estado. Teve como
seu governador o então prefeito de Campo Grande, Vespasiano Martins.
Placa indicativa do Palácio Maracaju
Criado a partir da divisão de Mato Grosso na sua parte
meridional, o estado é uma precoce demonstração
Palácio Maracaju, sede do Estado de Maracaju, localizado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
das pretensões separatistas com
relação ao governo de Cuiabá. Durante a Revolução Constitucionalista, o sul de
Mato Grosso apoiou a causa paulista, na pessoa do general Bertoldo Klinger. Com
o fim da revolução e a vitória militar do governo central, o estado foi
dissolvido, mas serviria de embrião para o que seria o hoje estado de Mato
Grosso do Sul.
UM POUCO DE HISTÓRIA
Após a revolta do forte de Copacabana, no ano de 1922, um
novo movimento revolucionário eclodiu em São Paulo, em 5 de julho de 1924, sob
a liderança do general reformado Isidoro Dias Lopes e dos capitães Juarez
Távora e Eduardo Gomes. Entretanto, o insucesso deste movimento levou os
revolucionários paulistas a se deslocarem para o estado do Paraná, onde se
encontraram em abril de 1925 com outras tropas revolucionárias procedentes do
Rio Grande do Sul. No comando das tropas gaúchas havia um capitão que se tornou
um destacado líder nacional: Luís Carlos Prestes.
Neste encontro de tropas rebeldes nasceu uma proposta de
organizar uma grande marcha revolucionária para percorrer todo o interior do
país, combatendo o governo oligárquico, representado, na época, pelo presidente
Artur Bernardes. O início desta marcha concretizou-se com a entrada das tropas
rebeldes no sul de Mato Grosso, através da fronteira com o Paraguai.
A partir desses acontecimentos o movimento tornar-se-ia
conhecido nacionalmente como a Marcha da Coluna Prestes. Era composta por
diversos destacamentos, variando de 800 a 1500 homens cada um, sob os comandos
dos coronéis Cordeiro de Farias, João Alberto, Siqueira Campos e Djalma Dutra,
além de Prestes.
Durante dois anos, os rebeldes percorreram uma extensão
aproximada de 25 mil quilômetros em quase todo o território nacional,
deslocando-se com rapidez e evitando confrontos diretos com as forças do
governo federal.
Placa indicativa do Palácio Maracaju
Ao penetrarem pela primeira vez em Mato Grosso, na sua
região sul, a Coluna atravessou os municípios de Amambai, Ponta Porã, Bela
Vista, Dourados, Campo Grande e Camapuã. No ano seguinte, 1926, retornaram
através de Goiás e Prestes rumou com uma coluna para o norte mato-grossense até
atravessar a fronteira com a Bolívia, enquanto Siqueira Campos rumou para o sul
até Bela Vista, onde cruzou a fronteira com o Paraguai no ano de 1927.
Consolidando sua liderança durante a longa marcha, Luís Carlos Prestes tornou-se
um
mito brasileiro e passou a ser chamado de “cavaleiro da esperança”.
A revolução paulista de Isidoro Dias Lopes, em 1924, por sua
vez, recebeu em Mato Grosso a adesão do 10° Regimento de Bela Vista. Mas, ao
contrário do que ocorreu em 1922, a 9ª Circunscrição Militar de Campo Grande
não apoiou o movimento militar rebelde e seu comandante, general João
Nepomuceno da Costa, deu início a uma mobilização da população contra os
revoltosos.
No ano seguinte, as insatisfações dos militares prosseguiram
com uma nova revolta no 17° Batalhão de Caçadores de Corumbá, liderada pelos
sargentos Aquino e Granja. A repressão foi imediata e fulminante, sendo o
sargento Aquino morto por um pelotão de fuzilamento. O sargento Granja
conseguiu fugir, sendo mais tarde preso e encaminhado à Colônia Agrícola de
Clevelândia (no Amapá, Norte do País) aonde veio a falecer.
No entanto, esta fase da história do sul mato-grossense foi
marcada por mudanças significativas. Começou a germinar na região a formação de
uma identidade desvinculada do norte e do domínio cuiabano. As lutas e
revoluções no sul de Mato Grosso chamaram a atenção das autoridades federais,
preocupadas com a sua situação muito especial e com os riscos da permanência da
fronteira internacional sem controle, como nos tempos mais remotos da ocupação
paraguaia.
Por isso, durante a década de 1920, o governo federal
decidiu investir nesta fronteira, construindo quartéis, estendendo a malha
ferroviária para outros pontos da região, construindo estradas de rodagem e
incentivando projetos de colonização para promover o desenvolvimento econômico
e social do sul. Tais medidas visaram, também, a manutenção da segurança e do
controle sobre a zona fronteiriça com o Paraguai.
O sul de Mato Grosso modificou-se, crescendo em importância
econômica pela força de suas atividades na pecuária e na extração de recursos
naturais. Cada vez mais, aumentava sua arrecadação de impostos, superando a
região norte. Entretanto, as verbas governamentais eram distribuídas e investidas
através da interferência de políticos nortistas, privilegiando grupos ou
políticos que apoiavam a situação. Isso significava alijar importantes
mandatários sulinos da política que, insatisfeitos, passaram a apoiar um
suposto movimento separatista.
O quadro abaixo mostra, de forma bem clara, o destaque
econômico da região sul do estado, apesar de sua dependência política e
administrativa do norte. Estes dados, publicados num jornal de Campo Grande, em
1933, foram muito utilizados pelos defensores da causa separatista, como
principal argumento em favor da autonomia e da criação de um novo estado da
Federação.
Receita arrecadada em Mato Grosso – anos de 1927/1931
Regiões
Valores em réis
Norte 7.272.082$796
Sul 24.330.096$993
Fonte: CORRÊA, Valmir B. Coronéis e Bandidos em Mato Grosso.
Campo Grande: UFMS, 1996. p.139.
A REPÚBLICA DE VARGAS (1930-1945)
O ano de 1930 foi um marco especial na república brasileira.
Foi o ano da revolução que depôs o presidente Washington Luís, assumindo o
governo federal uma junta governativa de militares que, logo depois, transferiu
o poder ao líder deste movimento, Getulio Vargas. A Revolução de 1930
repercutiu diretamente no estado de Mato Grosso. A primeira providência do novo
governo revolucionário foi nomear interventores federais para assumirem o
controle em todos os estados da União e reprimir os coronéis e as oligarquias
regionais. Em Mato Grosso o primeiro interventor foi o coronel Antonino Mena
Gonçalves, um militar da carreira do exército.
Quadro dos Interventores Federais em Mato Grosso/ 1930-1937
Ano de posse
Interventor
1930 Antonino
Mena Gonçalves
1931
Artur Antunes Maciel (tem foto na FS)
1932 Leônidas
Antero de Matos
1934
Cézar de Mesquita Serra
1935
Fenelon Müller
1937
Manoel Ari da Silva Pires
1937 Julio
Müller
Mena Gonçalves tomou medidas enérgicas para atingir
diretamente os antigos coronéis do norte mato-grossense, em especial os grandes
proprietários de terras e de usinas de açúcar. Foram realizadas prisões de
usineiros sob a acusação de praticarem em suas propriedades o regime de
trabalhos forçados (escravidão), a manutenção de cárceres privados e a
utilização de métodos de tortura para punir trabalhadores indisciplinados. Na
verdade, os interventores tiveram o objetivo de quebrar a espinha dorsal do
poder dos coronéis e, por isso, atacaram a base política e econômica deste
poder com a invasão de usinas e de fazendas e com a prisão dos proprietários. O
resultado dessas intervenções foi o enfraquecimento dos tradicionais coronéis e
a desorganização econômica do estado de Mato Grosso.
Houve, contudo forte reação. Os excessos dos diversos
governos intervencionistas repercutiram de imediato e provocaram uma reação dos
políticos, tanto do norte como do sul do estado. Assim, os primeiros
interventores acabaram por gerar forte oposição e alguns deles foram,
rapidamente, substituídos pelo governo federal.
Uma das maneiras de reagir contra a ação dos interventores
foi a adesão do sul de Mato Grosso à Revolução Paulista de 32. A Revolução
Paulista foi uma guerra civil deflagrada por São Paulo em oposição ao governo
provisório de Getúlio Vargas, reivindicando a elaboração de uma nova
Constituição. Esse movimento teve como uma de suas principais lideranças o
coronel (militar de carreira) Bertoldo Klinger, comandante da 6ª Circunscrição
Militar de Mato Grosso, sediada em Campo Grande. Este apoiou a causa
constitucionalista, inclusive enviando tropas mato-grossenses para lutar em São
Paulo.
A adesão do sul mato-grossense ao movimento paulista foi
motivada por dois fatores: em primeiro lugar como manifestação do
descontentamento dos coronéis e chefes políticos sulinos contra a política
repressora de Vargas; e, em segundo lugar, como uma oportunidade concreta de
lançar a proposta separatista e levantar a bandeira da autonomia do sul com a
criação de um novo estado. De início, os rebeldes envolveram as regiões de
Campo Grande, Aquidauana, Três Lagoas, Bela Vista, Ponta Porã, Nioaque, Coxim e
a Comarca de Maracaju. Corumbá não aderiu aos revoltosos e apoiou o governo
estadual.
Logo no início do movimento, os revoltosos criaram um poder
paralelo e o líder revolucionário, Bertoldo Klinger, indicou o médico Vespasiano
Barbosa Martins para assumir o governo dos mato-grossenses sulistas, ocasião em
que supostamente foi lançada a idéia da criação do estado de Maracaju. Enquanto
isso, Cuiabá apoiou o governo federal e reagiu prontamente às ações dos
rebeldes do sul.
A Revolução de 32 durou pouco tempo, terminando com a
vitória das forças governistas de Vargas. Os rebeldes sulistas recuaram na luta
com a derrota dos paulistas e seus principais líderes refugiaram-se no
Paraguai, atravessando a fronteira em Ponta Porã e permanecendo em Pedro Juan
Caballero até que abaixasse a poeira revolucionária.
Getúlio Vargas anistiou todos os rebeldes de 32, porém casou-lhes
os direitos políticos, impedindo assim que estas lideranças sulinas pudessem
participar efetivamente da vida pública, fazendo oposição ou fomentando novas
rebeliões. Esta medida viria agravar ainda mais a crise aberta entre o norte e
o sul de Mato Grosso, que sofreu as consequências desastrosas dessa
instabilidade e teve sua economia bastante afetada, tanto na produção
agropecuária como nas finanças estaduais que ficaram outra vez arrasadas.
Batalhão
Taunay, constituídos por voluntários de Campo Grande, MS. Na época,
Campo Grande, capital do Estado de Maracaju, dissolvido e reintegrado
ao Estado de Mato Grosso, depois do conflito.
Acervo pessoal de Luiz Eduardo Silva Parreira.
Acervo pessoal de Luiz Eduardo Silva Parreira.
A LIGA SUL MATO-GROSSENSE
A Liga Sul Mato-grossense foi criada no Rio de Janeiro, no
dia 2 de outubro de 1932, por estudantes universitários mato-grossenses. Em geral,
eram jovens que iam para a capital do país ingressar nas faculdades de Direito,
de Medicina ou Engenharia.
A Liga nasceu para defender a causa do separatismo e lutar
pela criação de um novo estado na região.
Em 1934 a Liga fez publicar num grande jornal de São Paulo
um documento em defesa da autonomia política do sul de Mato Grosso, sob a
liderança de Vespasiano Barbosa Martins, propondo novamente o nome de Maracaju
para o futuro estado. Na mesma ocasião, nasceu um outro movimento político, sob
o nome de Mato Grosso Unido, fazendo oposição aos defensores do separatismo.
No ano de 1937, Vargas desferiu um golpe de estado, criando
o Estado Novo, uma ditadura que vigorou até o ano de 1945. Neste período, pouca
coisa mudou no quadro político regional, apesar de todos os esforços das
lideranças sulistas pela campanha de criação de um estado independente. Os
interventores federais de Mato Grosso promoveram uma ação repressora no sul
mato-grossense, com o objetivo de desmobilizar as lideranças coronelistas. Para
liquidar o poder de fogo dos velhos coronéis sulistas, foi realizada uma
campanha de desarmamento visando impedir novas lutas e desestimular, também, as
reivindicações separatistas. Além do mais, na mesma região havia muitas
ocorrências de banditismo, que passaram a ser também reprimidas com mais
intensidade a partir de 1930.
Os pretextos utilizados pelas autoridades policiais para o
desarmamento dos fazendeiros e chefes políticos do sul foram: garantir a
segurança da fronteira, acabar com a impunidade e impedir as confusões e crimes
cometidos por bandoleiros. Com orientação da cúpula do Estado Novo, as
autoridades estaduais efetivaram também uma rigorosa censura nos jornais e
rádios da época, proibindo a divulgação de episódios ou notícias que
propagassem a intranquilidade na região, sobretudo a respeito das tentativas de
rebelião, atos públicos realizados por separatistas e casos de banditismo.
Em 1943, o governo de Vargas criou, através do Decreto-Lei
n° 5.941 de 28 de outubro de 1943, a Colônia Federal de Dourados para promover
o desenvolvimento econômico e social do extremo sul de Mato Grosso. Essa e
outras medidas tomadas para a região da fronteira fizeram parte de um projeto
amplo de proteção e defesa das linhas internacionais e dos sertões pouco
povoados que ainda existiam nesta zona. Além de assentamentos de colonos, foram
criados dois polos urbanos na Colônia de Dourados: a Vila Brasil e a Vila
Glória que hoje são as cidades de Fátima do Sul e Gloria de Dourados,
respectivamente. Essa colônia englobou uma área de 300 mil hectares, dividida
em duas zonas: uma, com 2.300 pequenos lotes de terra; outra, com 6.500 lotes
(todos com mais ou menos 30 hectares cada). Mas, apesar da iniciativa, o regime
de posse de terras que sempre predominou em toda a fronteira foi a manutenção
da grande propriedade agropecuária (posse latifundiária).
A Colônia de Dourados atraiu, por volta de 1953, uma significativa
migração de japoneses, que se irradiou para os municípios vizinhos como Ponta
Porã, Itaporã, Panambi, Fátima do Sul e outros. Famílias de origem nipônica
radicadas nesta zona deitaram suas raízes familiares e culturais, deixando
muitos descendentes e imprimindo a sua marca na sociedade do sul
mato-grossense.
No mesmo ano de 1943, foi criado o Território Federal de
Ponta Porã, através do Decreto-Lei n° 5.812 de 13 de dezembro com o mesmo
objetivo de incentivar o desenvolvimento da fronteira, tendo a cidade de Ponta
Porã como capital e incluindo os municípios de Dourados, Maracaju, Bela Vista,
Bonito, Nioaque, Miranda e Porto Murtinho. O Território de Ponta Porã foi
extinto dois anos depois com o fim da ditadura de Vargas e com a promulgação de
uma nova Constituição federal
FONTES- .Wikipédia, a enciclopédia livre.
FONTES- .Wikipédia, a enciclopédia livre.
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